segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pirata

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Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.

A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

Sophia de Mello Breyner Andresen
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Um comentário:

  1. «seja ruído
    seja beijo
    seja voo
    seja andorinha
    seja lago
    seja pacatez de árvore
    seja aterrizagem de borboleta
    seja mármore de elefante
    seja alma de gaivota
    seja luz num olhar
    seja um cardume de tardes
    e grite: JÁ SOU»
    «ser SER» in "Há Prendisajens com o Xão", de Ondjaki

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